Conheça os perigos por trás das revistas predatórias
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A ciência contemporânea fala, majoritariamente, inglês. Em 2020, 95% dos artigos científicos publicados em periódicos internacionais foram redigidos nesse idioma, enquanto apenas 1% estava em português ou espanhol [1]. Essa predominância se consolidou ao longo das últimas décadas e está diretamente ligada à busca por visibilidade global, impacto bibliométrico e inserção em redes internacionais de pesquisa. No entanto, embora a publicação em inglês amplie o alcance de um estudo, ela também impõe barreiras — seja por limitações de proficiência linguística, seja pela falta de tradução e revisão especializada [2]. Diante desse contexto, torna-se urgente refletir sobre os impactos desse cenário na produção científica: o idioma impulsiona a ciência ou silencia vozes que não falam a língua dominante?
A consolidação do inglês como idioma dominante na ciência remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial, quando a liderança científica e tecnológica dos Estados Unidos passou a ditar o ritmo da produção de conhecimento em escala global [3]. Desde então, o inglês se firmou como a “língua franca” da comunicação científica, substituindo o latim, o alemão e o francês — idiomas que, em outras épocas, também exerceram esse papel. Hoje, publicar em inglês é visto como uma exigência quase inquestionável para pesquisadores que buscam reconhecimento internacional.
Esse movimento é particularmente visível em bases de dados como a Web of Science e a SciELO. Um relatório da Clarivate Analytics apontou que, em 2021, 77% dos artigos indexados na SciELO foram publicados em inglês — um aumento expressivo frente aos 57% registrados em 2014 [4]. No mesmo sentido, a Organização de Estados Ibero-americanos (OEI) revelou que 84% dos pesquisadores da região publicaram em inglês em 2020, apesar de suas línguas nativas serem o português e o espanhol [1].
Embora essa tendência reforce a visibilidade global da produção científica, ela também levanta preocupações quanto à perda de diversidade linguística e à exclusão de conteúdos relevantes produzidos em idiomas locais. Afinal, quando apenas uma língua domina o circuito de circulação do conhecimento, que vozes acabam sendo silenciadas?
Publicar em inglês envolve muito mais do que traduzir palavras. Para pesquisadores de países não falantes do inglês, esse processo carrega uma série de barreiras invisíveis. Um dos primeiros obstáculos é a necessidade de tradução e revisão especializada. Muitos periódicos exigem que os textos estejam conforme o inglês científico [2].
Além disso, pesquisadores que não têm o inglês como primeira língua levam, em média, o dobro do tempo para preparar um artigo, desde a redação até a submissão. Eles também enfrentam 2,5 vezes mais chances de rejeição por problemas linguísticos e têm 12,5 vezes mais probabilidade de receber pedidos de revisão por questões de linguagem [2]. Em muitos casos, isso se traduz em insegurança, ansiedade e desistência: um terço dos cientistas entrevistados em um estudo internacional afirmou já ter deixado de participar de conferências internacionais por receio de apresentar em inglês [2].
Essas barreiras não apenas atrasam a difusão do conhecimento, como também distorcem o cenário global da ciência. Pesquisadores que poderiam contribuir com dados valiosos sobre realidades locais acabam silenciados por não conseguirem traduzir sua produção para o idioma dominante. É uma perda não apenas individual, mas coletiva — um empobrecimento da diversidade científica mundial.
A predominância do inglês na ciência global apresenta uma série de desafios estruturais, especialmente para pesquisadores de países do Sul global. A exigência de publicação nesse idioma cria barreiras linguísticas que vão desde a proficiência até o acesso a serviços de revisão e tradução qualificada. Como consequência, cientistas que não dominam o inglês frequentemente enfrentam maiores taxas de rejeição, dificuldades de inserção em redes internacionais e limitações para compartilhar resultados com suas próprias comunidades [2].
Esse cenário alimenta um ciclo de exclusão. Pesquisas com relevância regional — muitas vezes conduzidas com rigor e inovação — têm menor chance de alcançar visibilidade internacional se não forem publicadas em inglês. Como mostrou o estudo da SciELO, a publicação em inglês nem sempre se traduz em maior número de citações, especialmente em áreas como Ciências Sociais Aplicadas, onde o contexto local é determinante para a construção do conhecimento [3].
Por outro lado, esse desafio abre espaço para iniciativas transformadoras. O crescimento da publicação multilíngue em revistas da SciELO e o uso de tecnologias que facilitam o processo de tradução representam caminhos promissores. Segundo Packer, em 2021, 25% das revistas da SciELO já publicavam mais de 20% dos artigos em formato bilíngue [4]. Além disso, surgem movimentos internacionais, como a ciência aberta e a ciência cidadã, que valorizam a democratização do conhecimento em múltiplos idiomas. Essas iniciativas apontam para um futuro mais inclusivo, em que o impacto de uma pesquisa não será medido apenas pela língua em que é publicada, mas também pela relevância de seu conteúdo.
A internacionalização da ciência é fundamental — mas ela não precisa significar o silenciamento de saberes em outras línguas. Se você é pesquisador e quer ampliar o alcance da sua produção científica sem abdicar da clareza, da qualidade e do respeito às especificidades do seu trabalho, a Atlas pode ajudar.
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1. Bonilla JMH. Em 95% dos artigos científicos, inglês cria “ditadura da língua”. Apenas 1% está em português e espanhol. El País Brasil [Internet]. 2021 jul 28 [citado em 2025 abr 22]. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-07-28/em-95-dos-artigos-cientificos-ingles-cria-ditadura-da-lingua-apenas-1-esta-em-portugues-e-espanhol.html
2. FMarques F. A barreira do idioma na comunicação científica. Revista Pesquisa FAPESP [Internet]. 2024 maio 29 [citado em 2025 abr 22]. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/a-barreira-do-idioma-na-comunicacao-cientifica/
3. Cintra PR, Silva MDP da, Furnival AC. Uso do inglês como estratégia de internacionalização da produção científica em Ciências Sociais Aplicadas: estudo de caso na SciELO Brasil. Em Questão. 2020;26(1):17–41.
4. Andrade RO. Idioma em baixa [Internet]. Revista Pesquisa FAPESP [Internet]. 2022 [citado em 2025 abr 22]. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/idioma-em-baixa/
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